O que sentimos em um Banco

Raiva. É o primeiro sentimento que sentimos ao entrar no banco. Na verdade, ele começa antes de entrarmos. A fila é o primeiro ponto de acúmulo, o ápice mesmo é lá na frente, naquela porta que trava guarda chuvas, afinal, este objeto na mão de pessoas mal intencionadas pode mesmo virar uma arma daquelas. Mas nem tudo são tristezas, a parte boa da fila são as amizades que fazemos - será que chove hoje?- Pronto, inicia-se uma grande amizade que durará... algumas horas, dependendo do tamanho da fila.

O segundo sentimento é o medo, não só porque aquela porta com trava eletrônica faz você se sentir um terrorista da Al Qaeda, mas também porque quando vamos passar por ela ouvimos até uma voz ecoando interiormente – Não trava, não trava, não tra... Travou. Após inúmeras tentativas e depois de ter esvaziado dos bolsos todas as moedas, inclusive as que você havia esquecido, finalmente adentramos, naquela efusão animada e desesperada para pegar a senha. Esses são o terceiro e quarto sentimentos. Pegamos. Sentamos. E agora? A senha é a 50 e o número chamado é o 1. Somos brasileiros e não desistimos nunca! Sei. Felizes, confortavelmente sentados, aguardamos a tão calorosa ordem numérica, um martírio, mas essa espera é cheia de ímpetos quase que incontroláveis. Quando a sineta toca aquelas notas animadoras, pensamos- Não vai ninguém, não vai ninguém- e dá certo algumas vezes, tanto é que quando o atendente pula o número só faltamos gritar: Gol!

Alfonso não aguentava mais a espera - Oh vida que Deus me deu! Esse número nunca chega. A sineta toca outra vez, todos olham os bilhetes apreensivos, até mesmo Alfonso que desconsidera completamente o fato de estar no 11 e sua senha é o número 50. Mas não custa olhar. Sofremos de amnésia nessas horas, olhamos aquele papelzinho umas 300 vezes, e ainda assim, só é a sineta tocar que damos mais uma olhadinha, pra confirmar né? Vai que passa. Alfonso não aguentava mais esperar, o 11 piscava na frente e ninguém ia, pensou – Se eu for ninguém vai perceber, é claro que vou ter que enganar o atendente, mas não custa tentar- Alfonso dá mais uma olhadinha só para se certificar de que ninguém se levantou, e então, lentamente erguendo-se da cadeira vai em direção ao guichê 2. Neste mesmo instante um senhor encostado à parede e que, desatendo, folheava uma revista, solta um berro – Ai minha nossa é o meu! Alfonso disfarçadamente muda de direção como se procurasse água, faz até um gesto para o vigia como se estivesse morrendo de sede. O vigia desconfiado aponta o bebedouro – Não pode ser, o próximo que chamar e demorar para ir e não aparecer ninguém, eu vou!- E lá foi Alfonso, número 18, tocou, ninguém foi nos primeiros 10 segundos, pensou – É minha chance!

Chegando ao atendente, colocou todas as pastas em cima da bancada como quem quer dizer: Estou com muita pressa, atende logo! O atendente:

 – A senha, por favor.

- Oi?

- A senha senhor.

- Ah...

Sentindo o coração quase sair pela boca Alfonso entrega a senha, para sorte dele quando o atendente foi olhar alguém o chamou, então, para delírio de Alfonso ele jogou a senha no lixo. Com muita alegria Alfonso saiu do banco, cumprimentou até o vigia! Sua alegria era imensa. Dois minutos depois, um homem meia idade, chega ao atendente com cara de bravo:

- Ei, você pulou meu número.

- Desculpe?