07 setembro 2010

Reflexões sobre a arte

O presente texto não visa definir o que é arte, visto que só a tentativa da definição resulta em erros e achismos. O texto que você está decifrando refere-se mais ao um ponto de vista e ao que ela provoca, do que uma definição aureliana de seu significado. Portanto, feita as devidas ressalvas, vamos ao texto.

Uma aula de literatura brasileira é significativa quando nos provoca a reflexão sobre valores, sentimentos, auspícios, se tudo isso emana de uma aula e a discussão provoca a reflexão, é aí que se conclui o sentido da educação, se nada disso acontece, caímos no viés da decoreba. Foi por conta de uma aula dessa, repleta de sentido crítico, que decidi escrever algumas considerações sobre a arte. O que é a arte? Não sei. Posso representar na minha escrita uma definição denotativa, no entanto, falamos de uma representação conotativa da vida. A arte tem como referência, o real, o mundo real, acho que nisso todos nós concordamos, mas é representada de um ponto de vista, e esse ponto de vista é subjetivo, e por ser subjetivo envolve um tanto assim de valores, dores, estranhamentos, questões sobre a existência, além de uma clara crítica. Por exemplo, Guernica de Pablo Picasso, muitas pessoas viram essa obra durante sua vida, e muitas delas, não conseguiram se perguntar o por que daquele cavalo torto, aqueles rostos disformes, aquelas cores cinzas, muitos não percebem que aquela representação é o instante do caos, um desastre, o avesso do mundo. O rosto deformado, pelo contrário do que se pretende dizer, acaba parecendo, para alguns, algo feio apenas, ou na pior das conclusões, falta de talento do artista. E se acaso a obra provoca aquilo que falei, a reflexão, o que já é ótimo, as pessoas tapam os olhos. É difícil ver o diferente, é difícil encarar a dor, preferimos desligar o cérebro ou achar que isso é algo externo ao nosso país e nossa realidade, que nada disso acontecerá no nosso bairro, ou que nada disso acontecerá de novo, mas acontece de todos os jeitos e de todas as formas possíveis, a morte e a crueldade está em nossa vida, o mundo, desde sua existência, caminha sobre desastres. Todavia, fechamos os olhos, procuramos o “bem estar”. É mais fácil encarar a arte que não provoca do que a que nos prende e presenteia com angústia. Não quero dizer com isso, que a única representação da arte é a dor ou que a arte só tem sentido se for angustiante, o que pretendo evidenciar, é em qual contexto o artista emprega sua pena, seu pincel, seu sentimento, sua vontade, uma arte sem contexto, sem crítica, não gera reflexão, não é fundamentada. Quando a arte é contextualizada e cutuca como um alfinete os ouvidos, olhos, lábios e coração, muitos preferem fugir, ou escolhem a negação, esse é o ponto fundamental da reflexão que faço, algumas pessoas se acostumaram a negar, e para isso, não é preciso fazer muito esforço, basta virar o rosto, tapar os olhos, existem outros caminhos. A arte, como pude perceber , é aquela que dói, a que recusamos e temos medo, se arte não faz isso, independentemente de sua forma de expressão, seja ela artes plásticas, música, tudo que seja expressão, se ela não faz isso, não é arte, é entretenimento, enfeite, ou melhor, açucaramento da vida. Angustiante ou não, mas que tenha nas suas bases a crítica, e que nós enquanto espectadores dela e do mundo em que vivemos, possamos enxergar muito além dos traços, enxergar o abstrato é essencial ao entendimento. A arte para mim, é da cor dos corvos no campo de trigo do último quadro de Van Gogh.