27 maio 2013

Tratamento diferenciado na Virada Cultural Paulista

            Estávamos eu e me minha lata de cerveja caminhando pelas provincianas ruas mogianas entre calçadas adoráveis e construções antigas. O evento, todos sabem, aquele que acontece uma vez por ano, aquele que boa parte do dinheiro da cultura é injetado de uma vez só em um único dia do ano. Não quero explanar minha opinião sobre isso, há prós e contras, todos sabem. Como eu dizia, eu e minha lata de cerveja permeamos por quase todas as praças, do samba ao rock, do teatro ao museu, das danças ao hip hop, mas eis que no hip hop tive uma desagradável surpresa. Estava eu admirando uma das belíssimas grafites quando um policial para em minha frente e diz que não posso beber cerveja ali, intrigado com a súbita e extemporânea afirmação, inocentemente indaguei, mas eu passei em todos os eventos e ninguém disse nada, aliás, em todos os eventos estão bebendo, conversando, passeando. Muito cordialmente ele solicitou minha retirada com a estigmatizada cerveja para depois do cavalete do evento de hip hop. Lá fomos nós, eu e minha cerveja para o lado de lá do cavalete, e fui cheio de reflexões na mente. 
            Troquei minha amiga cerveja por outra e novamente circulei pelos outros espaços abertos, outra vez reparei que todos bebiam tranquilamente, percebi então que o único local aberto que não se podia beber era no evento de hip hop. Não critico aqui a posição da organização e nem o espaço cedido a galera do rap, tenho que dizer que as iniciativas do poder público neste segmento estão sendo inovadoras e muito bem intencionadas, mas como cidadão acho institucionalmente, humanamente, errada a posição da organização coibir, proibir algumas atitudes das pessoas de um segmento. Fiquei a pensar, será que os organizadores pensaram que as pessoas do hip hop bebem muito? Mas a galera do rock não? A galera do samba não? Não critico só esta posição apenas, mas acho que somos todos iguais, e devemos ser tratados de forma igual, se não posso beber depois do cavalete no evento de hip hop então que eu não possa em todos. Será desconhecimento? Má fé? Preconceito?
            O detalhe citado por mim é muito pequeno, alguns amigos me disseram que viram guardas simplesmente pegando a garrafa de quem entrava no evento e despejando o líquido no chão, é uma atitude honesta? Enfim, são nestes pequenos detalhes que vemos ainda um movimento conservador e reacionário diante de atitudes muito louváveis, espero poder ser tratado de forma igual, espero ver meus amigos, irmãos serem os mesmos independente do espaço, pelo menos é esta retórica que se prega na constituição, direitos iguais para todos, a bebida ali não faria diferença para mim e para ninguém que estava no evento, mas a proibição revela um discurso velado, aquele marginalizado, estigmatizado que todos nós sabemos, o exemplo que citei pode não ter sido dos melhores, mas gerou uma reflexão muito maior. Curti muito as grafites em frente à escola, curti os sons dos brothers, não tive problema algum em relação a isso, mas algumas coisas ainda teimam a incomodar, diante disso não me calo, seguem as linhas e as palavras de uma pessoa comum que teve um tratamento diferenciado na virada cultural paulista.

13 maio 2013

As ruas

Meus olhos penetram na rua, ela é cheia de uma beleza aparentemente normal, no entanto, ao penetrar no obscuro que se acende aos poucos, são imersos na dura verdade escondida.
As ruas são caminhos feitos por humanos, umas são banhadas a asfalto, outras são pregadas de paralelepípedos, outras carregam a marca do traço da máquina, são terras onde nascem matos.
As ruas são carregadas de histórias, histórias desses mesmos humanos que protagonizam sua existência. Há na rua um requinte de crueldade adornado por enganações.
Só quem mora na rua sabe o destino, sabe o significado, sabe o que acontece.