04 setembro 2011

Chuva


A gente vai chorando os segundos do tempo,
Tiquetaqueando desliza aquele último minuto no seu olhar,
E a tristeza preenche as horas que lembro da sua ternura,
E os dias vão se tornando frutas isoladas do mundo sem sabores,
É a solidão circundando meu canto, meu pensar, meu fazer,
Meu existir se tornou agora molhado nas lágrimas do tempo.

18 julho 2011

Nordestinar

Nordestinei por aí,
Peregrino deserteando fui,
Mandacaru tá por mim,
Sombreando a quentura da luz

Nordestino sem destino,

Pede pra chuva brotar,
Líricas gaivotas do mar,
Adornar o agreste,
Outras planícies sertão alagar,
Com água de beber,
Minha desventura cessar.

22 maio 2011

A felicidade niilista


Vou sorrir como as folhas virgens tocadas pela brisa
Dançando no outono da vida e da morte,
Vou subir tão alto quanto uma formiga alpinista da fome
Raptando as folhas das árvores,
Vou empurrar as ondas do mar se necessário for,
Instigar a natureza com certo rancor por sua conduta,
Vou respirar a luz do arco-íris e soprar meus sonhos mais contidos
Na direção dos meus anseios,
Vou colorir se assim é necessário para viver,
Mas sempre com o olhar baixo, vou desconfiar de tudo isso,
Pois é difícil para mim, acreditar que é possível ser feliz.

17 abril 2011

Sonhos

Você pedia desculpas no sonho?
Para mim?
Que abraço foi aquele, eu nascia no seu abraço.
Acho que um pouco de mim morreu.
Sua mãe e sua casa, sua família, era tão real.
Por que tanto amarelo?
Por que era um sonho?
Eu colocava sua cabeça no meu peito e dizia: Não fale isso, agora vai ficar tudo bem.
Eu estava dentro de um quadro do Van Gogh.
O sonho disse-me que você queria pedir desculpa?
A realidade diz o contrário.
Não sou eu que devo pedir desculpas?

Clique no sonho e faça parte dessa experiência.

02 abril 2011

Estrela e Oceano

Você está em cada espaço do pensamento
Entre o cognitivo e a conclusão
Está na cor e na essência
No sabor da amora e na vida que a água constrói
Em direção ao mar seu barco no azul se perdeu
Um montante de erros afastou-a da costa
Eu que não sei nadar nem velejar apenas gritei
Mas minha voz amante do vento se embrenhou na mata
Hoje você está em mim
E ao mesmo tempo não está
Como a estrela que brilha na noite
Sem saber se o brilho ainda vive ou não
Eu a vejo.

26 março 2011

Sr. Khadafi

Caro Sr. Muamar Khadafi,
Quero dizer que o poder não é tudo isso...
Às vezes é preciso deixá-lo, o poder mata o sangue de seu sangue.
Do que adianta Khadafiar o desejo de liberdade do seu povo
Mubarakiando todo tipo de atrocidades?
Queria que sua cabeça Khadafizesse o contrário, Khadilhotinada fosse pela crueldade que você semeia,
O poder é causa da morte Sr. Khadafi, crie consciência e pense no seu povo,
Pois sua prole não aguentará, e por vez em vez, em Khadafizinhos sem descendência se tornarão. 

20 março 2011

Conversa entre Gerações

Estão no ponto de ônibus três pessoas, ambos esperam o ônibus. Expressam na fronte a paciência ou a falta dela. O da geração X, inquieto, não deixa de olhar o relógio a cada cinco minutos. O da geração Y manda mensagens para alguns amigos dizendo que vai se atrasar. Enquanto isso, calmamente, e sentado no canto direito, suspirando e sorrindo debaixo do toldo, o da geração Z  com um aparelho na mão, deleita-se na internet, ouve música, e já disse a um colega,  via facebook, para avisar a sua mãe que vai se atrasar para o almoço.

12 março 2011

5... 3... 1...

5... 3... 1... Cada pedaço do tempo escorre em minhas mãos

Já nem sei se eu perco o tempo ou se ele me perde

Corro mas não sei onde e em qual corrida a morte me espera

A vida há muito desde o meu começo e consciência enche-me de dor

O tempo é o único e implacável metal que indestrutível

Segue seguro de sua partida

Você pode correr os bares

Misturar vodka a outros líquidos

Mas a sua vontade não vai ser aceita por essa lei, única lei superior,

O tempo, não para, não volta, não ouve sua prece,

É surdo!

Locomotiva desgovernada

08 março 2011

Mágoa

Aos poucos as rosas se transformaram em tragédias Shakespearianas

O tempo passou a ser um contínuo caminho incerto e sem ruas

Seu nome era Pequena, encostava sua cabeça junto ao meu peito

Você me chamava de lua, o motivo da minha existência era sua segurança

O que sou agora se não uma lembrança amarga?

Existiu no meio do nosso caminho uma flor, mas não era o ipê e sua força amarela

Era uma flor magoada, as pétalas não cingiam as sépalas e os receptáculos florais

No lugar das pétalas, espinhos pululavam sequiosos do fel que a mágoa escorre

Os seus espinhos cortaram nossa existência, transpassaram nossos sonhos, nossos amigos, nossa família, a mágoa alheia e a nossa mágoa.

E tudo que era belo na noite; num segundo apagou até mesmo as estrelas do céu,

Mas não falo daquelas que preenchem o Cinturão de Órion, nem daquelas que desenham o Pássaro Grou e que dão asas ao Peixe Voador, falo das que carregam o meu e o seu nome.

26 fevereiro 2011

A criança que sente

O pai fala com o filho:
- Sim meu filho, você tem que estudar para ser alguém na vida.
O menino fica intrigado com a afirmação, coça a cabeça, chama o pai para mais perto e junto ao ouvido, quase sussurrando, pergunta:
- Mas o que é ser alguém na vida?
- Crescer e ter um bom emprego, preferencialmente ser gerente de alguma empresa, uma vida estabilizada, compreende?
O menino olha ao seu redor, observa ao longe um sanfoneiro que na praça toca uma melodia, essa melodia preenche seus ouvidos, sente um frêmito cortar seu corpo e então pergunta:
- Eu posso ser alguém na vida sendo um músico pai?
Por um instante o pai fica em silêncio, depois, franzindo a testa desenha no rosto um enjoo:
- Como assim?

19 fevereiro 2011

O Roubo da Rosa

O Baobá organizava a fila no intervalo das aulas, com grande dificuldade tentava chamar a atenção das flores, cantava cantigas e derrubava suas folhas, no entanto, embora tenha feito tudo, a fila demorou a ficar reta. Quando tudo estava em ordem e as flores perfeitamente alinhadas como no jardim, um cravo correu em disparada, gritava com os olhos de uma pureza absoluta que era o mágico do espaço, cantava e pulava, vivia como só um cravo sabe viver. Mas o instante de explosão e euforia foi cortado, o Baobá encontrou-o quando já subia em uma grade, irritado com a desobediência, chamou pelo nome o mágico do espaço:
- Cravo!
Ele não dava atenção, com grande esforço tentava alcançar o fim da grade, onde tênue e virgem vicejava uma rosa. Suas forças se esgotaram quando estava para alcançá-la, ele caiu. Com a queda um ferimento no caule foi aberto, nada que o fizesse chorar. O Baobá levou-o puxando pelas pétalas até a diretoria. Chegando ao local onde as ordens são tomadas, ele encontrou um amigo chamado Lírio:
- Por que você está aqui?
- Tentei roubar uma rosa.

12 fevereiro 2011

Revoar

Suas palavras foram modeladas com pedaços da lua
Mas vieram os cometas para destruir sua essência
Foi preciso a poeira encantada e as cores diversas
Para acertar o andamento do tempo

O que você buscava se não a complacência?
É preciso que os ponteiros acertem o ritmo
Esperar que o mar e sua espuma apague o sol
No começo as tempestades foram severas

Mas sua vontade foi aceita por todos
Pudera o tempo aceitar sua felicidade
Inundar o mundo com o frescor da garoa
Mas ele não aceita o linear sem mudanças

O que essa neblina faz aqui?
Você errou no dizer ou na escolha?

A solidão espreita sua tristeza
Revoa seu corpo feito valsa desacompanhada
Não há flores, elas não resistiram
Não adianta cantar, você não tem voz
Onde estão as palavras modeladas?

09 fevereiro 2011

Nascer do sol

A nuvem espalhava sua poeira sobre o céu
E o sol sua farinha sobre as nuvens derrubava
Um passarinho cantava sua alegria e seu enfeite
As folhas dançavam a música do vento
E o sol era o sol, e o dia nascia
Que fosse ruim em partes do mundo
Que fosse triste e de grande agonia
As pessoas na frenética rotina
E o caos em seus frêmitos mais sórdidos
Aquele instante deveria ser fotografado
Pelos olhos de um homem, pelos olhos de uma mulher
A vida estava laranja e amarela, viva e calma como um nascer do sol.

03 fevereiro 2011

Quando nuvens são só nuvens

Um homem sentado no chão, observava com seu sobrinho de 11 anos, as nuvens do céu.
-Aquela é um coelho, ali vemos um soldado com uma arma! Veja, veja Tio! Ali está uma flor a desabrochar.
O homem coçava a cabeça, fitava o céu com toda atenção, procurava o coelho, o soldado, a flor, mas nada via. Então, em uma tentativa desesperada, colocou-se a imaginar outros desenhos, uma gaivota, um navio, um avião, todavia, por mais que se esforçasse nenhum desenho se formava. Eram nuvens, não passavam de ínfimas nuvens, densas, brancas, enormes algodões adocicando o céu, porém, para ele... apenas nuvens.

05 janeiro 2011

José e Pilar

José e Pilar é um filme de Miguel Gonçalves Mendes. O filme documenta a vida do escritor José Saramago e o relacionamento com sua mulher, Pilar del Rio. Muito mais do que isso, revela a intimidade de um Saramago nunca visto antes, um caminhar pelas pedras de Lanzarote, o momento da construção do livro A viagem do elefante bem como a ideia do último livro, tudo registrado pela lente que o segue em todos os cantos possíveis, construindo uma certa intimidade com o único escritor, em língua portuguesa, a ganhar o Nobel de literatura. A primeira cena do filme, que posso dizer demasiada particular, não pelo lugar, mas pela mensagem é dirigida a Pilar: Nos encontramos em outro sítio. A câmera incessante segue Saramago na estreia de livros, conferências e tem grande participação no tédio e na chatice de ser famoso, entrevistas intermináveis, pedidos estranhos na hora dos autógrafos, como o ocorrido no Brasil por um rapaz que pediu a Saramago para desenhar um hipopótamo no livro dele ( não sei por qual motivo mas ele pediu). O que achei de belo e interessante, é a documentação em áudio visual de um escritor que considero o mais importante do século, com o filme percebemos de fato quem é o Saramago escritor, e isso possibilita uma outra visão sobre seus livros, influencia a vontade de ler mais e mais Saramago. Para quem não conhece os seus livros, não tem como sair do cinema sem comprar um exemplar, de preferência em sebo, visto que o comércio aproveita-se de sua recente morte para colocar os preços nas alturas. Portanto, recomendo não só o filme, mas principalmente seus livros, o filme pode ser importante para conhecer as ideias do escritor, mas de fato, o livro é fundamental para entender a densa produção em tão pouco tempo que Saramago conseguiu fazer.