22 dezembro 2010

Diálogo

A nuvem, e a sua mania de se desenhar no céu, um dia disse algo que, de primeira e sem reflexão, não compreendi. Primeiro, uma ávore à maneira de pássaro; depois, um homem à maneira de máquina e, logo tudo foi ficando pequeno, pequeno, até sumir. Intrigado pensei... pensei e resolvi escrever uma conclusão, talvez uma conclusão insegura e desvinculada, sem uma totalidade que me diga o seu real significado. Todavia,o desenrolar desse fato é sobretudo um desfecho, infelizmente, obscuro:

Queria ser pássaro e fugir da morte,
Morte que o homem acelera para construir máquina,
Máquina que pouco a pouco substitui o homem,
Homem que some, som, so, o, s,

07 setembro 2010

Reflexões sobre a arte

O presente texto não visa definir o que é arte, visto que só a tentativa da definição resulta em erros e achismos. O texto que você está decifrando refere-se mais ao um ponto de vista e ao que ela provoca, do que uma definição aureliana de seu significado. Portanto, feita as devidas ressalvas, vamos ao texto.

Uma aula de literatura brasileira é significativa quando nos provoca a reflexão sobre valores, sentimentos, auspícios, se tudo isso emana de uma aula e a discussão provoca a reflexão, é aí que se conclui o sentido da educação, se nada disso acontece, caímos no viés da decoreba. Foi por conta de uma aula dessa, repleta de sentido crítico, que decidi escrever algumas considerações sobre a arte. O que é a arte? Não sei. Posso representar na minha escrita uma definição denotativa, no entanto, falamos de uma representação conotativa da vida. A arte tem como referência, o real, o mundo real, acho que nisso todos nós concordamos, mas é representada de um ponto de vista, e esse ponto de vista é subjetivo, e por ser subjetivo envolve um tanto assim de valores, dores, estranhamentos, questões sobre a existência, além de uma clara crítica. Por exemplo, Guernica de Pablo Picasso, muitas pessoas viram essa obra durante sua vida, e muitas delas, não conseguiram se perguntar o por que daquele cavalo torto, aqueles rostos disformes, aquelas cores cinzas, muitos não percebem que aquela representação é o instante do caos, um desastre, o avesso do mundo. O rosto deformado, pelo contrário do que se pretende dizer, acaba parecendo, para alguns, algo feio apenas, ou na pior das conclusões, falta de talento do artista. E se acaso a obra provoca aquilo que falei, a reflexão, o que já é ótimo, as pessoas tapam os olhos. É difícil ver o diferente, é difícil encarar a dor, preferimos desligar o cérebro ou achar que isso é algo externo ao nosso país e nossa realidade, que nada disso acontecerá no nosso bairro, ou que nada disso acontecerá de novo, mas acontece de todos os jeitos e de todas as formas possíveis, a morte e a crueldade está em nossa vida, o mundo, desde sua existência, caminha sobre desastres. Todavia, fechamos os olhos, procuramos o “bem estar”. É mais fácil encarar a arte que não provoca do que a que nos prende e presenteia com angústia. Não quero dizer com isso, que a única representação da arte é a dor ou que a arte só tem sentido se for angustiante, o que pretendo evidenciar, é em qual contexto o artista emprega sua pena, seu pincel, seu sentimento, sua vontade, uma arte sem contexto, sem crítica, não gera reflexão, não é fundamentada. Quando a arte é contextualizada e cutuca como um alfinete os ouvidos, olhos, lábios e coração, muitos preferem fugir, ou escolhem a negação, esse é o ponto fundamental da reflexão que faço, algumas pessoas se acostumaram a negar, e para isso, não é preciso fazer muito esforço, basta virar o rosto, tapar os olhos, existem outros caminhos. A arte, como pude perceber , é aquela que dói, a que recusamos e temos medo, se arte não faz isso, independentemente de sua forma de expressão, seja ela artes plásticas, música, tudo que seja expressão, se ela não faz isso, não é arte, é entretenimento, enfeite, ou melhor, açucaramento da vida. Angustiante ou não, mas que tenha nas suas bases a crítica, e que nós enquanto espectadores dela e do mundo em que vivemos, possamos enxergar muito além dos traços, enxergar o abstrato é essencial ao entendimento. A arte para mim, é da cor dos corvos no campo de trigo do último quadro de Van Gogh.

09 julho 2010

Consciência

A Consciência, num dia de sol, bateu a minha porta.

Perguntei o que queria de mim, respondeu que queria mostrar-me algumas verdades.

Respondi que conhecia a verdade e não precisava de achismos para me confundir e me fazer infeliz.

A Consciência, por um instante, fitou-me, enrubesceu a face, e em seguida disse, A sua felicidade é inventada por outros, inventam tudo que você não precisa para ser feliz, inventam cores, sabores, e atribuem símbolos que tem mais valores que seus conteúdos, tudo falsidade, a verdadeira alegria está na pureza das coisas como elas são, tudo isso que você tem são frivolidades, para persuadí-lo, e você é um homem bom, não pode contribuir com isso. Depois despediu-se, Até breve caro amigo.
Porém, antes que virasse a esquina de minha casa, perguntou-me o nome, respondi que me chamava Alienado.

07 julho 2010

Tristeza

A tristeza tem gosto, e tudo que tem gosto pode ser sentido,

Por isso tanta gente fica triste.

Triste por ganhar, triste por perder,

Triste por ter, triste por querer e não ter,

Triste por ser, por ver.

Triste por amar e não amar.

Triste pelo sim e pelo não.

Triste por perder o bonde e por chegar no horário.

A tristeza é mesmo dois pontos de vista,

Do qual sempre aceitamos o primeiro,

A tristeza gosta de todos, e todos gostam dela,

Ela vem com amor, com a alegria, com terror.

Mas feliz mesmo é quem planta lírios nela,

As abelhas beijam, e ela fica com gosto de mel.


Um pouco mais sobre a tristeza por Adoniran Barbosa



06 julho 2010

Nos Trilhos de um domingo à noite

Dois meninos já homens, sentados no trem sonhavam imagens,
Seus cabelos eram loiros, nos rostos brilhavam estrelas,
Caiam de suas mentes pedaços do arco-íris.

No outro banco um homem forte desafiava a lei com um cigarro,
Não tinha dentes, mas a boca aberta representava o sorriso,
Do lado dele, seu companheiro de boteco,
O beiço seco nada falava,
Mantinha um sorriso infeliz,
Os olhos negros de noite sem lua estavam colados no teto do trem,
Era vermelho, estava de luto da camisa ao sapato.

Nos outros bancos havia figurantes,
Falavam constantemente,
Mas não consegui ler os lábios de suas palavras indecifráveis.

Os ferros, as engrenagens, o barulho dos freios e o contato da matéria,
Tudo em perfeita dissonância para dar verossimilhança à poesia.

E assim o trem furava o nada a caminho da casa de todos,
E assim é a viagem de trem num domingo à noite,
Cheia de personagens.

05 julho 2010

Falso Patriotismo



Não foi dessa vez que a única seleção pentacampeã do mundo, conseguiu realizar a façanha de alcançar o degrau nunca antes alcançado, também não foi dessa vez que o Kaká fez o gol, não foi dessa vez que o capitão da seleção brasileira levantou a tão estimada taça de campeão. Só nos resta guardar as bandeirinhas do falso patriotismo e esperar a próxima copa do mundo. Mas o que seria um falso patriotismo? Muitos poderão concordar e muitos poderão discordar com argumentos e ideias próprias, discorrerei um ponto de vista dos muitos possíveis sobre a pergunta.

Quando se aproxima de alguma data comemorativa, o comércio, as empresas de tele mensagens, lojas de todos os tipos, de 1.99 a 1999 se preparam para comemorá-la. Afinal, temos que comemorar o dia das mães, dos Pais, das Avós, dos Namorados, da Páscoa, do Carnaval, do Natal, do Aniversário, do Amigo, do Patrão, do Empregado, de tudo enfim, passamos o ano inteiro comemorando e comprando objetos, perfumes, relógios, chocolates, ou se não temos dinheiro para tanto, e nem cartão de crédito sem limites de compra, podemos ao menos desejar algo. Com a copa do mundo não poderia ser diferente, quando é o dia da seleção brasileira entrar em campo, bancos, comércios, prefeituras, nada funciona, nem a mente das pessoas, até as escolas (e isso já não é grande novidade, posto que as escolas sempre fecham por qualquer motivo) deixam de exercer sua função, e os cadeados são lançados ao portão, ninguém entra, nem que queira fazer algo tão estranho como estudar, não, só amanhã dependendo do horário do jogo, mas não é sobre a paralisação que pretendo prosear. O fato é que as lojas querem vender e os consumidores querem consumir, não importa o que seja, o importante é consumir, essa é a primeira atitude de todos nós enquanto humanos, deve ser por isso que muitos de nós, damos primeiro o presente e depois o abraço.

Os consumidores cegos e sedentos de uma vaidade inventada pelos meios de comunicação, percorrem as lojinhas dos pequenos burgueses de toda espécie, e realizam a compra de sua bandeira para colocar no carro, ou então da camisa que tem sempre a mesma frase: Brasil, rumo ao Hexa! Enfim, as pessoas consomem, elas não consomem por amor a pátria, elas consomem porque há nas lojas artigos e coisas que veem e em certo período, como o de 13 de Junho a 11 de Julho de quatro em quatro anos, torcer pelo seu “país”, mas preste atenção na organização sintática da frase, podemos acrescentar no morfema lexical do verbo torcer, o sufixo cida, teremos a palavra: torcida, e torcida é um grupo de pessoas que torce por um time, e time é um conjunto de 11 jogadores de futebol, e futebol é uma competição esportiva. Portanto, é por isso que chamo de falso patriotismo esse tipo de realidade mascarada que fazem as pessoas colocarem bandeiras em todos os lugares, inclusive até nos lugares mais estranhos, isso explica o porquê da segunda feira amanhecer sem produtos nas cores verdes e a amarela para vender, afinal, o time de futebol perdeu, e o que ele representa agora para o país? Nada, já não representava. O que há apenas, no meu modo de ver, é que as pessoas não estão unidas pelo seu país como muito se fala, o que motiva as pessoas a fazerem isso, é o gosto pelo esporte, a festa, a diversão, é só por isso que podemos chamar de falso patriotismo a exacerbada atitude que levam não só brasileiros, mas todos de todas as nações a torcer pelo seu “país”, a diversão existe, o respeito existe, é uma festa bonita, é a “união dos países”, mas no fulcro de todas essas atitudes e representações, muitas vezes não paramos para pensar ou perguntar: O que é a representação de um país hoje no esporte? Será a representação onde todos fazem parte, ou simplesmente interesses? Ou pior ainda, representação da união dos países, pois a união não deve ser representada, deve ser feita.

07 junho 2010

Ele Ela

Se eu te contar uma história, Sinhá Vitória com mais dois Meninos pequenos, e uma cachorra chamada Baleia, e Fabiano.
Vidas Secas

Se eu te contar da passarola, e falar da liberdade, você vai ver Baltasar Sete Sóis e Blimunda Sete Luas.
Humildade

Se eu te contar do Anti-herói, Macunaíma, e a Índia Ci, como estrelas lá no céu.
Feitiçaria.

Tem ele e ela juntos apesar das vidas secas,
Tem ele e ela juntos pela humildade,
Tem ele e ela juntos por feitiçaria,
Todos com algo em comum,
Completam o outro pelo que falta no outro,
E se falta tudo, como em vidas secas,
Continuam juntos, e apenas juntos.

Têm outros que morrem de amor, Romeu e Julieta, Simão e Tereza,
Têm outros morrendo de ciúmes, ficando só, zangado como um Dom Casmurro.

Mas em algum espaço, em algum acaso, em algum poema se completam,
Como os Cem Sonetos de Amor do Pablo Neruda.
Ele e ela se completam apesar dos defeitos e apesar dos efeitos,
Afinal, morfema masculino é zero, o feminino é o que completa,

Ele, Ela, completados, em todos os sentidos, até nas palavras.

30 março 2010

Tião

Na rua havia um marrom com tons pretos das pedras e o verde do capim. Cidade do interior do interior de São Paulo. Poucos habitantes, poucos transportes, nenhum saneamento básico, pouca assistência social, poucas escolas, pouca segurança. Na favela também é assim, a diferença está na intensificação dos elementos e no número de pessoas.

Tião, sentado no chão, esperava o bonde. Um pé de amora dava sombra aos cabelos brancos e esfriava a pele castigada pelo tempo. Camisa xadrez, calça surrada, sapatos vetustos, olhos negros, bigode manchado do café. Apesar da aparência um pouco pisada, esta era sua roupa de sair, a camisa estava lavada, o sapato não tinha jeito, e o cabelo de lado retocado a cada dois minutos. Tião era inteiro humilde. Conhecido por todos, não havia um que passasse e não cumprimentasse o velho, “Tião cumpadi, e ocê”? “Indo Zé, indo.”

Tião era só de solidão, não havia aliança no dedo, nem companhia para esperar o bonde, nem para tomar café, nem para conversar, nem para ouvir. Tinha um violão morto em cima do sofá esburacado, algumas vezes empurrava os dedos nas cordas, tirava sons desconexos e desafinados passando o braço para cá, para lá, virando de lado, do outro lado. À vezes resmungava alguma canção com o cigarro de palha na boca. Ficava assim por horas a fio, até que se cansava e matava o violão.

Cuidava de uma fazenda, não era feia, mas também não era bonita, só a sua casa era feia, no entanto, aconchegante e pequenina, do tamanho dos seus sonhos. Não reclamava, “Tá bão aqui”, dizia coçando a cabeça quando alguém perguntava “Oh! Tião, ocê num pede um cantinho melhor?”.

Tião às vezes sentava na porta fitando o horizonte, os olhos viam ruas de terra, pedras, cachoeiras poluídas, flores pretas, marrons, cinzas, arvores secas, galhos magros esqueléticos, campos queimados, arames farpados, cercados elétricos, casas burguesas, muralhas gigantes, varandas enormes, piscinas límpidas, Orquídeas, Lírios, Rosas, gramados e ruazinhas adornadas. Quando fitava assim o horizonte, uma mágoa batia ao coração, fingia que não ouvia, a mágoa insistia mais forte, tapava os ouvidos, mas a mágoa às vezes tem braços de Hércules, por fim, cedia, abria a porta e os filhos entravam no coração. Uma chamava-se Vanderléia, já tinha carro. O outro era Vanderlei, subgerente de um supermercado. Não ligavam, só apareciam no natal, era por isso que Tião estava contente, inexplicavelmente os filhos haviam feito um almoço e chamaram o pai, “Que alegria Zé”, “Tô vendo Tião, Tô vendo”.

E ali está Tião, no ponto de ônibus, sentado, vai ver os filhos, mas e o bonde?

Não apareceu, mas não havia problema, a filha apareceria para buscá-lo, alguém notaria a demora. Tião ficou lá, por horas ficou, até que desistiu e foi dar vida ao violão.

02 fevereiro 2010

Café da Tarde

Estava vendo um vídeo antigo, tentarei descrever.

Zelenski parecia pensar sobre o que seria o próximo assunto. Cabral fazia algumas piadas e variava o semblante entre sorriso e seriedade, então emendava um assunto sério. Araújo, com acento, completava o assunto sério de Cabral, e começava a troca de informações e, o mesmo Araújo, após completar fazia uma piada, um trocadilho. Araujo, sem acento, olhava à todos com muita atenção. Se alguém falasse em alguma banda, logo se lembrava do álbum, das músicas, quem compôs, bem como quem estava na banda. O Moura ficava quieto observando, dava uma opinião e silenciava outra vez. Zelenski estava fazendo o café, e falava um pouco sobre si. Nesse momento todos na sala eram silêncio. Zelenski continuava falando e depois mais uma piada, e gargalhadas percorriam aquele pequeno espaço. O aroma do café dava à tarde uma mistura de calma, com ímpetos que faziam a conversa ser interminável. Era sempre o que acontecia : uma trilha dos Beatles, entre outras, que Moura não conhecia... Afinal todos pesquisavam muitas bandas e era impossível dar conta de tantos sons novos. Ouviam naquela tarde as novas melodias que embalariam a tarde e, posteriormente, embalariam a volta para casa, a semana, o trabalho e toda a rotina, para novamente chegar o fim de semana e trocarem outras bandas, e substituirem a trilha da semana.

Foi no tempo em que os Netos da Revolução ficavam na sala da antiga casa do Zelenski... Agora ele mora em outro local. Ficávamos lá entre vídeos no youtube, entre músicas ou situações engraçadas. Às vezes fazendo um som, às vezes olhando uns livros...

Pensando nisso, está aí o blog Café da Tarde.