09 julho 2010

Consciência

A Consciência, num dia de sol, bateu a minha porta.

Perguntei o que queria de mim, respondeu que queria mostrar-me algumas verdades.

Respondi que conhecia a verdade e não precisava de achismos para me confundir e me fazer infeliz.

A Consciência, por um instante, fitou-me, enrubesceu a face, e em seguida disse, A sua felicidade é inventada por outros, inventam tudo que você não precisa para ser feliz, inventam cores, sabores, e atribuem símbolos que tem mais valores que seus conteúdos, tudo falsidade, a verdadeira alegria está na pureza das coisas como elas são, tudo isso que você tem são frivolidades, para persuadí-lo, e você é um homem bom, não pode contribuir com isso. Depois despediu-se, Até breve caro amigo.
Porém, antes que virasse a esquina de minha casa, perguntou-me o nome, respondi que me chamava Alienado.

07 julho 2010

Tristeza

A tristeza tem gosto, e tudo que tem gosto pode ser sentido,

Por isso tanta gente fica triste.

Triste por ganhar, triste por perder,

Triste por ter, triste por querer e não ter,

Triste por ser, por ver.

Triste por amar e não amar.

Triste pelo sim e pelo não.

Triste por perder o bonde e por chegar no horário.

A tristeza é mesmo dois pontos de vista,

Do qual sempre aceitamos o primeiro,

A tristeza gosta de todos, e todos gostam dela,

Ela vem com amor, com a alegria, com terror.

Mas feliz mesmo é quem planta lírios nela,

As abelhas beijam, e ela fica com gosto de mel.


Um pouco mais sobre a tristeza por Adoniran Barbosa



06 julho 2010

Nos Trilhos de um domingo à noite

Dois meninos já homens, sentados no trem sonhavam imagens,
Seus cabelos eram loiros, nos rostos brilhavam estrelas,
Caiam de suas mentes pedaços do arco-íris.

No outro banco um homem forte desafiava a lei com um cigarro,
Não tinha dentes, mas a boca aberta representava o sorriso,
Do lado dele, seu companheiro de boteco,
O beiço seco nada falava,
Mantinha um sorriso infeliz,
Os olhos negros de noite sem lua estavam colados no teto do trem,
Era vermelho, estava de luto da camisa ao sapato.

Nos outros bancos havia figurantes,
Falavam constantemente,
Mas não consegui ler os lábios de suas palavras indecifráveis.

Os ferros, as engrenagens, o barulho dos freios e o contato da matéria,
Tudo em perfeita dissonância para dar verossimilhança à poesia.

E assim o trem furava o nada a caminho da casa de todos,
E assim é a viagem de trem num domingo à noite,
Cheia de personagens.

05 julho 2010

Falso Patriotismo



Não foi dessa vez que a única seleção pentacampeã do mundo, conseguiu realizar a façanha de alcançar o degrau nunca antes alcançado, também não foi dessa vez que o Kaká fez o gol, não foi dessa vez que o capitão da seleção brasileira levantou a tão estimada taça de campeão. Só nos resta guardar as bandeirinhas do falso patriotismo e esperar a próxima copa do mundo. Mas o que seria um falso patriotismo? Muitos poderão concordar e muitos poderão discordar com argumentos e ideias próprias, discorrerei um ponto de vista dos muitos possíveis sobre a pergunta.

Quando se aproxima de alguma data comemorativa, o comércio, as empresas de tele mensagens, lojas de todos os tipos, de 1.99 a 1999 se preparam para comemorá-la. Afinal, temos que comemorar o dia das mães, dos Pais, das Avós, dos Namorados, da Páscoa, do Carnaval, do Natal, do Aniversário, do Amigo, do Patrão, do Empregado, de tudo enfim, passamos o ano inteiro comemorando e comprando objetos, perfumes, relógios, chocolates, ou se não temos dinheiro para tanto, e nem cartão de crédito sem limites de compra, podemos ao menos desejar algo. Com a copa do mundo não poderia ser diferente, quando é o dia da seleção brasileira entrar em campo, bancos, comércios, prefeituras, nada funciona, nem a mente das pessoas, até as escolas (e isso já não é grande novidade, posto que as escolas sempre fecham por qualquer motivo) deixam de exercer sua função, e os cadeados são lançados ao portão, ninguém entra, nem que queira fazer algo tão estranho como estudar, não, só amanhã dependendo do horário do jogo, mas não é sobre a paralisação que pretendo prosear. O fato é que as lojas querem vender e os consumidores querem consumir, não importa o que seja, o importante é consumir, essa é a primeira atitude de todos nós enquanto humanos, deve ser por isso que muitos de nós, damos primeiro o presente e depois o abraço.

Os consumidores cegos e sedentos de uma vaidade inventada pelos meios de comunicação, percorrem as lojinhas dos pequenos burgueses de toda espécie, e realizam a compra de sua bandeira para colocar no carro, ou então da camisa que tem sempre a mesma frase: Brasil, rumo ao Hexa! Enfim, as pessoas consomem, elas não consomem por amor a pátria, elas consomem porque há nas lojas artigos e coisas que veem e em certo período, como o de 13 de Junho a 11 de Julho de quatro em quatro anos, torcer pelo seu “país”, mas preste atenção na organização sintática da frase, podemos acrescentar no morfema lexical do verbo torcer, o sufixo cida, teremos a palavra: torcida, e torcida é um grupo de pessoas que torce por um time, e time é um conjunto de 11 jogadores de futebol, e futebol é uma competição esportiva. Portanto, é por isso que chamo de falso patriotismo esse tipo de realidade mascarada que fazem as pessoas colocarem bandeiras em todos os lugares, inclusive até nos lugares mais estranhos, isso explica o porquê da segunda feira amanhecer sem produtos nas cores verdes e a amarela para vender, afinal, o time de futebol perdeu, e o que ele representa agora para o país? Nada, já não representava. O que há apenas, no meu modo de ver, é que as pessoas não estão unidas pelo seu país como muito se fala, o que motiva as pessoas a fazerem isso, é o gosto pelo esporte, a festa, a diversão, é só por isso que podemos chamar de falso patriotismo a exacerbada atitude que levam não só brasileiros, mas todos de todas as nações a torcer pelo seu “país”, a diversão existe, o respeito existe, é uma festa bonita, é a “união dos países”, mas no fulcro de todas essas atitudes e representações, muitas vezes não paramos para pensar ou perguntar: O que é a representação de um país hoje no esporte? Será a representação onde todos fazem parte, ou simplesmente interesses? Ou pior ainda, representação da união dos países, pois a união não deve ser representada, deve ser feita.